A oposição de franceses e alemães tem vindo a manter adormecido o "dossier" da adesão da Turquia à União Europeia
Tolga Bozoglu, EPA
Os turcos vão hoje às urnas para redesenharem a configuração do Parlamento de Ancara, que poderá ter como primeira tarefa a adoção de um novo texto constitucional. Todas as sondagens atribuem a vitória ao Partido da Justiça e do Desenvolvimento, do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. Resta saber se a corrente política emanada do islamismo terá uma maioria suficiente para alterar a Lei Fundamental sem um referendo.
Mais de 50 milhões de turcos chamados a votar em legislativas
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Escorado no apoio das classes mais desfavorecidas e de boa parte da classe média, Recep Tayyip Erdogan ocupou a dianteira em todas as sondagens que precederam a votação deste domingo. Se for reeleito, a figura cimeira do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) selará a sua terceira vitória consecutiva nas urnas. A escolha é feita por mais de 50 milhões de eleitores em mais de 200 mil assembleias de voto.
Ao longo da campanha, Erdogan, de 57 anos, agitou a bandeira de uma Turquia com um sólido desempenho económico – a economia turca é hoje a 17ª à escala mundial, tendo apresentado um crescimento de 8,9 por cento no ano passado, a par de uma inflação a rondar os seis por cento. Para contrariar o discurso do primeiro-ministro, a Oposição pautou a campanha pela denúncia de um autoritarismo cada vez mais evidente no seio do Governo.
Ouvido pela agência France Presse no bairro de Çankaia, em Ancara, o eleitor Engin Unsal, funcionário público na reforma, deu voz às inquietações das forças da Oposição perante os crescentes atentados às liberdades fundamentais: “Votei por um regresso à democracia normal na Turquia, onde as pessoas não tenham medo de expressar as suas opiniões”.
Constituição
Dada a aparente certeza da vitória do AKP, é sobre o número de deputados que o partido de Recep Tayyip Erdogan conseguirá eleger que repousa a atenção dos analistas políticos turcos. Para mudar a Constituição do país sem a realização de uma consulta popular, uma das principais ambições do primeiro-ministro, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento terá de superar a fasquia de 367 dos 550 assentos parlamentares. Com 330 assentos, o AKP terá de se conformar com o referendo e abaixo dos 330 terá de negociar com os partidos adversários ou, no limite, deixar cair os planos de uma revisão constitucional rumo a um sistema presidencialista.
A generalidade das sondagens atribui 45 por cento das intenções de voto ao partido do chefe do Governo, que em 2007 venceu com um resultado de 47 por cento. Todavia, não está excluída uma progressão do Partido Republicano do Povo (CHP), à frente da Oposição pró-laica. Já o Partido da Ação Nacionalista (MHP) não deverá ir além dos 12 por cento.
Ao longo da campanha, foram duras as armas utilizadas pelos partidos. Uma delas foi a divulgação, na Internet, de vídeos sexualmente explícitos que conduziram à queda da liderança do MHP, a terceira força mais representada no Parlamento.
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